16 junio 2013

O Brasil não pode cometer o mesmo erro que, nós europeus, cometemos na inicio da era digital

O economista Javier Celaya*, descreve e avalia sobre a situação atual do Livreiro independente e, um mundo em transformação, com exclusividade à Associação Nacional de Livrarias  ANL.

“O Brasil não pode cometer o mesmo erro que, nós europeus, cometemos. Imaginávamos que a representatividade do livro digital era muito pequena e não nos preparamos. Deixamos que as grandes plataformas internacionais tomassem conta do nosso mercado, que interferissem em parte de nossa cultura, de nossa identidade cultural.” Para ele, as livrarias e bibliotecas são parte da identidade de um país e não podemos perdê-las, mesmo que diante de grandes e radicais transformações, como a da revolução digital.

Se tiver que aceitar essa convivência, estas transformações, de alguma maneira o livreiro irá enfrentar e se adaptar as mudanças e os governos, por sua vez, precisam proteger as entidade, empresas que querem manter no século 21.

“Vi de forma positiva a iniciativa do governo francês** enfrentar as grandes plataformas, como a Amazon. Nada tenho contra elas, pelo contrário, sou usuário de todas e me parecem que prestam serviços de qualidade, mas não podemos deixar, nas mãos de poucos, toda esta revolução digital.”

Para o economista, as livrarias e as bibliotecas brasileiras têm que pensar e redefinir sua participação neste mercado para os próximos 5 anos. Se reestruturar, redesenhar o modelo do negócio do papel na sociedade no século 21. “Entendo que o comercio do livro digital, atualmente, é muito pequeno, representa em torno de 3% do total das vendas. Muitos livreiros acreditam que não precisam se preocupar, que não existe a necessidades de atitudes relevantes neste momento. Na Europa cometemos este erro. Não acreditávamos que a sociedade iria aderir tão rapidamente a plataforma digital, acreditamos que a força do fetichismo pelos livros impressos iria se sobressair.”

Em sua quarta viagem ao Brasil, Javier vê a sociedade brasileira como uma apaixonada pelo livro impresso e pelo seu manuseio. Diferentemente de países europeus, até pela questão econômica atual, ele observa, ainda, que em nosso país, muitas vezes não se compra apenas um livro. Em suas visitas a nossas livrarias nota que nas filas dos caixa, muitas pessoas estavam com dois ou três livros. Mas, isso pode nos levar a um grave erro, não podemos nos iludir com essa situação. Temos sim que nos preocupar e estarmos preparados para os digitais. Ele acredita que no prazo de 5 anos os livreiros têm que estar preparados para atenderem não apenas o leitor em papel, mas também o do livro digital.

O livreiro tem que se perguntar: que tipo de tecnologia tenho que incluir nas instalações físicas de minha loja para vender mais livro em papel e incluir o digital. Já o governo tem de pensar em leis que protejam este segmento cultural. Isso é necessário em qualquer país, em qualquer continente. Ações que favorecem o livreiro cultural. “No meu ponto de vista a lei do preço fixo não protegerá a livraria independente. Como economista, vejo as vantagens do preço fixo para a venda foi uma lei que funcionou no século 20.”

“Hoje qual seria a vantagem de termos um preço único, isso não garantirá a ida do leitor a essa ou aquela livraria? O que leva o leitor a sua livraria é o tipo de serviço diferencial que você oferece e, um serviço na era digital, significa oferecer tecnologia. A lei preço fixo não funcionará. Temos que estabelecer, sim, um preço único de compra. Sabemos que as grandes livrarias têm grandes descontos muito diferenciados nas compras junto as editoras. Temos, então, que equiparar os preços de compra e promover uma competência idêntica no mercado. Tem que ter o mesmo preço de compra e cada dá o desconto que achar viável. Se quiser vender abaixo do preço de compra é a decisão de cada um. Todos terão as mesmas vantagens.”, sentencia Javier.

Uma das principais dificuldades dos pequenos e médios livreiros, verificada pelo especialista, é de não poder estar presentes em regiões mais centrais, mais valorizadas. Ele usa o exemplo da Avenida Paulista aqui no Brasil. “Sabemos que neste local apenas as grandes redes têm condição de estarem presentes. Se queremos ter um rico de sistema de livrarias independentes, a lei teria que facilitar, democratizar mais estes espaços com o arrendamento social, como chamamos na Europa. E não apenas para as livrarias, mas para salas de cinema e teatro, entre outros espaços dedicados exclusivamente a cultura.”

“Se queremos uma sociedade com acesso a cultura, precisamos também promover o acesso a tecnologia, através de créditos facilitados e mais baratos.” Complementa ele.

Javier acredita no futuro das livrarias independentes, desde que se entenda a necessidade de se incorporar tecnologia em suas lojas e estar preparado pra vender livros digitais. Ele ressalta que a tendência na Europa e nos Estados Unidos é a busca de novidades para oferecer ao leitor. “Quando nos dirigimos a plataformas como as da Apple e da Amazon, sabemos definitivamente o que vamos encontrar, mas quando queremos buscar algum título diferente, quando queremos ser surpreendidos por algo diferenciado e para a livraria física que nos dirigimos.”

“Quando o leitor consegue descobrir este diferencial em uma livraria independente, ela tem que estar preparada para vender neste mesmo local o livro digital. Ter equipamentos que permitam esta compra via um QR Code, por exemplo. O livreiro tem que ampliar sua vendas no papel e atender a demanda do digital.

Por último Javier desatacou que o governo Britânico tem enfrentando a Amazon para que ela pague os impostos locais. Se um livro é comprado em Londres, por exemplo, os impostos têm que ser pagos para aquela cidade. O livreiro tem que usar isso a seu favor, afinal ela paga impostos municipais e gera empregos.

* Javier Celaya, é economista, vice-presidente da Associação Espanhola de Revistas Digitais e diretor da Associação Espanhola de Economia Digital e sócio fundador da Dosdoce.  Presente no Congresso Internacional CBL do livro Digital, que acontece hoje em São Paulo.

** Paris – A ministra de Cultura da França, Aurélie Filippetti, defendeu nesta quarta-feira um plano de ajuda a favor dos livrarias independentes, ao mesmo tempo que revelou a preparação de «medidas muito fortes» contra a companhia americana de venda online Amazon, acusada de concorrência desleal.


Por Marilu G. do Amaral
Editora da Revista da Associação Nacional de Livrarias  ANL

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