Primeiro mapa da indústria de áudio em língua portuguesa: 400 entidades impulsionam a crescente indústria de áudio
- A indústria áudio portuguesa gera aproximadamente 30 milhões de euros por ano.
- Embora as plataformas de streaming representem apenas 3% do total da indústria de áudio, são as principais promotoras do sector dado que investem milhões de euros na produção de audiolivros pelas editoras.
São Paulo / Lisboa, 5 de novembro de 2024. Nos últimos cinco anos, temos testemunhado um número crescente de entidades que apostam no formato de áudio (podcast, audiolivros, áudio-séries, audiodramas, etc.) em português. Esta é uma das conclusões do primeiro Mapa da indústria de áudio em língua portuguesa, elaborado pela Dosdoce.com, plataforma especializada em tendências da economia digital, que identificou 365 entidades que estão a apostar firmemente no desenvolvimento da nova indústria de áudio nos mercados de língua portuguesa.
As quase 400 entidades que representam esta indústria criaram, nos últimos anos, mais de 250.000 podcasts e cerca de 10.000 audiolivros em português, entre outros formatos. Prevê-se que a indústria do entretenimento sonoro (podcasts, audiolivros, rádio e música em streaming) continue a crescer cerca de 10% em todo o mundo até ao final desta década, graças às receitas geradas pelas plataformas de assinatura, venda avulsa, empréstimo digital, venda em massa através de grandes empresas como operadoras telefónicas, receitas publicitárias, conteúdos de marca, entre outros, mas com contribuições de receita de formatos muito variados, segundo o relatório “Audiobook Global Growth Report” recentemente publicado pela Feira do Livro de Frankfurt.
A indústria áudio em língua portuguesa gera aproximadamente 30 milhões de euros por ano, enquanto nos mercados de língua espanhola ronda os 100 milhões de euros, comparativamente aos dos bilhões de euros que a indústria áudio gera nos mercados de língua inglesa, pelo que o potencial de crescimento é muito alto. “Nos últimos cinco anos, as plataformas de streaming lideraram a indústria do áudio, investindo milhões de euros na produção de audiolivros. Quase dois terços dos audiolivros existentes em língua portuguesa pertencem a editoras, as plataformas de streaming têm sido as principais promotoras da indústria do áudio investindo na produção de mais de 90% dos audiolivros para impulsionar os mercados de língua portuguesa. As editoras devem optar pelo formato áudio investindo na produção própria de audiolivros para beneficiarem do crescimento da indústria.” afirma Javier Celaya, analista especialista na indústria de áudio e fundador da Dosdoce.com.
Origem das entidades que apostam no áudio em língua portuguesa
Ao definir a origem dos conteúdos de áudio em língua portuguesa, o Brasil lidera a indústria de áudio neste idioma. 84% das entidades identificadas no primeiro Mapa da indústria de áudio em língua portuguesa são de origem brasileira (mais de 300 entidades), enquanto Portugal representa 10% da indústria de áudio. Os 6% restantes são entidades que produzem e comercializam em português, mas vêm de outros países europeus, bem como dos Estados Unidos e Canadá.
Principais atividades das entidades de áudio no Brasil
O estudo realizado pela Dosdoce.com revela que as entidades identificadas na indústria de áudio em língua portuguesa pertencem principalmente a cinco atividades económicas. Das mais de 300 entidades de áudio identificadas no Brasil, 59% são editoras como Companhia das Letras, Sextante, Intrínseca, Editora Gente, Buzz Editora, Grupo Editorial Record, Alta Books, Editora Globo, Grupo Ediouro ou Grupo Planeta, que apostam no audiolivro, seguidas por 26,5% nomeadamente estúdios que produzem todo o tipo de conteúdos sonoros em português. Em terceiro lugar, encontramos os meios de comunicação (7,5%) como a Globo, CNN, TV Record, Band, Folha de São Paulo, Estadão, etc., que apostam no formato podcast para ampliar o público. Em quarto lugar, cerca de 4% das entidades são empresas que oferecem serviços relacionados com o áudio, como a Bookwire. E em quinto lugar, as plataformas que comercializam conteúdos de áudio no Brasil, como a Audible, Skeelo, Storytel ou Ubook, representando 3% do total da indústria. Como indicamos no início deste relatório, embora as plataformas de streaming representem apenas 3% do total da indústria de áudio, são as principais promotoras do sector dado que investem milhões de euros na produção de audiolivros pelas editoras.
Principais Tendências e Modelos de Receita
O estudo revela ainda que a receita gerada pela indústria do áudio provém de diversas fontes, incluindo plataformas de assinatura, vendas unitárias, empréstimos digitais, bem como alianças comerciais B2B2C com empresas de telecomunicações, internet, transportes, entre outras. O modelo de negócio B2B2C, liderado pela Skeelo no Brasil, apresenta-se como uma oportunidade única para as grandes empresas tecnológicas e editoras captarem e reterem clientes num ambiente digital crescente.
Principais atividades das entidades de áudio em Portugal
Enquanto no Brasil existem mais de 300 entidades que apostam no áudio, apenas 40 apostam nos conteúdos sonoros em Portugal. Os meios de comunicação (56%) são o principal grupo que aposta no áudio, principalmente em podcasts, seguidos por editoras como Leya ou Porto Editora, que representam 19% das entidades analisadas.
Em terceiro lugar, estão os estúdios de produção, que representam 14% do total de entidades que apostam nos formatos sonoros. Em quarto lugar, 5,5% das entidades identificadas são plataformas de escuta de conteúdos de áudio baseados na palavra falada (podcasts, audiolivros, audioteatros, bookcasts, etc.) como a Bertrand ou Kobo-FNAC. Por fim, encontramos entidades que promovem o uso de IA no setor de áudio, bem como entidades especializadas em organizar eventos setoriais (2,75% em cada caso).
Principais formatos de áudio
Quanto aos formatos, 56% das entidades analisadas trabalham apenas com audiolivros, 37% apenas com podcasts, enquanto os 7% restantes apostam em ambos os formatos, ampliando o espectro de ouvintes ao oferecer uma maior diversidade de conteúdos de áudio que atraem mais público.
Viagens pelo mundo dos conteúdos em áudio em portugués
Embora o português seja atualmente a quinta língua mais falada do mundo, com mais de 200 milhões de falantes, e língua oficial de 10 países: Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste and Macau , apenas 3,46% das vendas de audiolivros ocorrem fora do Brasil e de Portugal, segundo o relatório mencionado “Audiobook Global Growth Report” recentemente publicado pela Feira do Livro de Frankfurt.
96,54% das vendas de audiolivros em português ocorrem no Brasil (95,36%) e apenas 1,18% em Portugal. O principal mercado de exportação de conteúdos de áudio em português é os Estados Unidos, com 1,92%, seguido do Reino Unido com 0,26%, da Alemanha com 0,17%, da Irlanda com 0,12%, e Espanha com mais 0,12%.
Confluência dos formatos de áudio para dinamizar a indústria
Uma das principais conclusões deste estudo é a crescente tendência internacional das diferentes entidades da indústria em apostar numa ampla diversidade de formatos de áudio, sejam podcasts, audiolivros, áudio-séries, etc., em vez de apostar em apenas um. Enquanto, nos Estados Unidos, um mercado de áudio muito mais maduro, 47% das entidades de áudio giram em torno dos podcasts e 40% em torno dos audiolivros, na Europa os dados indicam que ainda temos um forte desequilíbrio entre os formatos sonoros.
“A indústria de áudio em língua portuguesa crescerá mais rapidamente se as entidades do setor apostarem firmemente no desenvolvimento de produtos e serviços em múltiplos formatos de áudio, a fim de criar uma categoria global denominada ‘conteúdos de áudio’”, afirma Javier Celaya, analista especialista na indústria de áudio e fundador da Dosdoce.com.
“O mercado de audiolivros, especialmente das línguas portuguesa e espanhola, apresenta enorme potencial e uma tremenda oportunidade a longo prazo para editoras, autores e criadores de conteúdo explorarem novos públicos e expandirem seus formatos globalmente”, afirma Ana Julia Ghirello, SVP Partnerships & GM Expansion da Storytel
«O Brasil tem se mostrado nos últimos anos um país de muito consumo de áudio, sem considerarmos a música que já é algo presente culturalmente há muito tempo. Os podcasts tiveram um crescimento exponencial e se tornaram parte constante do cardápio de entretenimento e informação de muitos brasileiros. Junto com isso nos últimos anos, com o surgimento de players nacionais de áudio e a chegada de players internacionais, criou-se um ecossistema de criação, produção e comercialização de conteúdos digitais em áudio que vai permitiu colocar o Brasil dentro do mapa dos potenciais grandes mercados do formato. Como toda formação de hábito e criação de categoria, na minha visão é questão de tempo para que os audiobooks se tornem tão comuns na rotina dos brasileiros quanto já é a música e já se tornou o podcast» afirma André Palme, partner & CMCO do Skeelo
«O Mapa de Áudio dos Mercados de Língua Portuguesa ilustra o potencial significativo da indústria de áudio nos mercados de língua portuguesa, particularmente no Brasil, onde a infra-estrutura necessária – desde estúdios a editoras e plataformas de streaming – já está estabelecida. No entanto, a infra-estrutura por si só é insuficiente. Desenvolver uma audiência de áudio requer investimentos substanciais em marketing, publicidade e parcerias estratégicas com indústrias que tenham um amplo alcance de consumo. Para transformar o potencial do mercado de áudio lusófono em realidade, são essenciais investimentos significativos e parcerias estratégicas”, afirma Carlo Carrenho, Fundador da Pop Stories no Brasil e Embaixador de Áudio da Feira do Livro de Frankfurt 2023/2024
“O mercado de Audiolivros no Brasil, ainda embora em estágios iniciais, vem se consolidando em uma geografia relevante para o formato. Com áudio, um formato já afeito ao consumidor brasileiro que é um dos mais importantes usuários de PodCast em todo o mundo, podemos imaginar um grande novo grupo de leitores que adentram o mercado consumidor leitor ou audioleitor. A Bookwire no Brasil vem investindo não apenas na distribuição de audiolivros para suas mais de 800 editoras, mas também, de forma robusta, atua na produção de novos títulos com objetivo de crescimento de catálogo, algo essencial para o sucesso do mercado. Nosso programa de produção WAY – We Audiobook You no Brasil já gravou mais de 1500 títulos que se unem ao nosso catálogo de mais de 5000 títulos, número que nos posiciona como o principal vetor de comercialização do formato no país. É extremamente gratificador ver isso refletido no incrível trabalho da Dosdoce na publicação pioneira do Mapa da Indústria do Áudio em Língua Portuguesa!” Marcelo Gioia, Managing Director da Bookwire Brasil.
“No final dos anos 2000, comecei a ouvir audiolivros na Audible (EUA), e com isso, pensei: «Por que, em um país onde se lê tão pouco, não temos um app como a Audible?» Assim nasceu a UBOOK: com um modelo de assinatura ilimitada e outro que possibilita a assinatura com pagamento lançado na conta do celular, nosso propósito foi claro desde o início — democratizar o acesso à leitura. Em 2014, lançamos a plataforma com apenas 100 títulos em português. Hoje, após parcerias com as principais editoras brasileiras e investimentos em títulos originais, contamos com mais de 3.500 audiolivros produzidos pela UBOOK. Se em 2014 acreditávamos no potencial desse mercado, agora, estamos ainda mais motivados! Nos últimos cinco anos, com a chegada de novos players ao país, o Brasil se consolidou como o segundo maior mercado de podcasts do mundo, com mais de 35 milhões de ouvintes — consumidores em potencial de audiolivros. Tudo isso reforça nossa visão: o Brasil está no caminho para se tornar um dos maiores mercados de audiolivros do mundo. Sabemos que ainda temos muitos desafios pela frente, como o crescimento do catálogo e o investimento em marketing para difundir cada vez mais o formato; mas vemos cada vez mais investimento das editoras na produção de seus títulos, e a chegada de mais produtores de audiolivros. É apenas uma questão de tempo até que o mercado se consolide” Flávio Osso, CEO& Co-Founder UBOOK
Metodologia
Para realizar o primeiro Mapa da indústria de áudio em língua portuguesa, a equipe da Dosdoce.com conduziu uma ampla pesquisa durante três meses (julho, agosto e setembro deste ano), analisando as diferentes atividades económicas relacionadas com a indústria do áudio, como estúdios de produção de conteúdos sonoros, plataformas de streaming que comercializam conteúdos de áudio, meios de comunicação que apostam nos podcasts, entidades de serviços de áudio, festivais, entre outros.
“Gostaria de agradecer a Cris Alburquerque, Leonor Furtado e Patricia Ibáñez pelo grande esforço que dedicaram à realização deste excelente trabalho de pesquisa. Sendo uma nova indústria em constante crescimento, não temos dúvidas de que não identificamos todas as entidades que fazem parte dela. Convidamos-vos a deixar nos comentários deste artigo os nomes e URLs de estúdios de produção, plataformas, festivais, encontros, prémios, entidades de formação, etc., que conheçam ou nos quais trabalhem para que possamos adicioná-los na próxima edição do mapa.”, conclui Celaya.
O objetivo é atualizar anualmente este mapa para ajudar os profissionais da indústria de áudio a entender melhor a sua evolução: novos players, categorias que mais crescem, volume da indústria, tendências, etc.
O Mapa da indústria de áudio em língua portuguesa está também disponível em espanhol e inglês.